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Star Girl - She left me
Autora: Ally Gonsalvez
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Sinopse.

*****Ela perdia tempo inventando desculpas que justificasse toda a dor que sofria por dentro. Talvez sabia, pelos sorrisos falsos e pelo modo que a olhavam, que todos tinham uma teoria sobre sua amargura. A mãe nunca gostou muito dela, não tinha vínculo com o irmão e o pai nunca entrou em contato. E talvez isso explique o porquê de ela fugir da afeição humana. Abandonou sua casa com treze anos. Fez as malas e partiu para outro mundo, um que ela pudesse ser feliz. Mal conseguia se lembrar da época em que sentiu-se querida e amada. Se o amor era vermelho, certamente ela era daltônica. Perdeu os amigos como quem perde canetas; apenas se foram com o vento. Vagou sem rumo e sem rumo ficou até que a vida resolveu sentir pena, e a humilhou ainda mais. Fora adotada e retirada das ruas, não poderia reclamar. Ela era só uma menina que ainda não encontrou o final feliz. No entanto tudo parecia de fato estar bem, até que seu caminho se cruzou com o dele, e então tudo desandou...


Algumas palavras de boas vindas.

*****Todos gostam de uma boa história, não é? Pois bem, tenho uma particularmente diferente para lhes contar. É sobre dois jovens, ambos desajuizados, que bagunçaram com o próprio destino, simplesmente porque fizeram todas as escolhas erradas. Sou um deles e posso, tal como devo, dizer que a maior parte é culpa minha. Sempre é. Digamos que a vida goste de brincar e que, hm, eu não fico para trás. É como as pessoas dizem por aí: por isso que Deus não dá asas às cobras. Do que estou falando? Estou falando de quando eu me tornei uma peça quebrada que arruinou o jogo. Porque é isso que Danny Jones faz: merda.
*****Quando me inscrevi para o teste da V — que saiu pela culatra e, por sorte, eu terminei na McFly — eu tinha dezessete anos e não passava de um adolescente rockeiro. Mas não foi tão difícil me adaptar ao estilo pop que Fletch, Rashman e Tom queriam, e até gostei. Na altura em que a banda realmente estourou, eu estava prestes a completar dezenove anos, não tinha maturidade suficiente para lidar com o estrelato. Enquanto para Tom a McFly era a chance de trabalhar com a música, para mim era uma diversão bem equilibrada entre poder tocar a minha guitarra e ter mulheres. Sim, um pensamento muito idiota.
*****Basicamente, meu relacionamento mais duradouro foi cerca de... dois meses, eu acho. Eu era do tipo que me entediava fácil, então passava a recusar ligações, simples assim. Como se uma estúpida mensagem pudesse terminar aquilo que comecei. Eu não as respeitava, verdade seja dita, era um idiota implacável; não é algo que me faça sentir orgulho. Não as traía, jamais, somente não queria um relacionamento sério, e bastava o menor sinal de conflito para que eu partisse para outra — o que na verdade era um defeito meu, até mesmo quando Tom e Harry discutiam, eu me afastava. Com o passar do tempo, meus amigos começaram a informá-las com o que estavam lidando: eu, fazendo-as me dispensarem. Soava como se eu fosse um cafajeste, e não era bem assim. Apenas tinha um vazio em meu peito, e eu não sabia como lidar com ele.
*****Estava mais do que explícito que eu não acreditava mais no amor, e estava disposto a aceitar as consequências. Talvez fosse influência dos problemas familiares que fui obrigado a enfrentar; ou porque na primeira vez que assumi um namoro de verdade, ela terminou semanas depois, alegando ter outro; mas nada mudava minha ideia de que as pessoas traíam. Sempre fui um cabeça dura. De acordo com Tom, e eu acho cruel, eu merecia uma mulher que me tratasse feito escravo, para só então aprender os bons valores da vida.
*****De fato, fui castigado. Por ironia do destino, vi-me encantado e interessado por uma mulher que acabara de conhecer. A mulher errada para mim. A única que, sabiamente, jamais quis algo comigo. Ela estava certa. Sejamos honestos, quem me levaria a sério? Não sou um bom partido, admito. Sou estranho, preguiçoso, e tenho a chata mania de guardar as mágoas para mim mesmo, me tornando um alguém ressentido. O que ela iria querer comigo? Nada. Mas bom, posso ser bem persuasivo e insistente.

*****Se vocês vieram em busca daquelas histórias românticas ais quais os casaizinhos apaixonados só ficam juntos no final, após longos conflitos contra o destino que tentava separá-los, sinto informar que estão no lugar errado. Nós éramos nossos próprios conflitos, nós éramos a razão pela qual estávamos separados. Éramos diferentes dos pés à cabeça. Ora nos odiávamos, ora nos amávamos; um paradigma sem solução. Simplesmente não havia maneiras de aquilo terminar bem.
*****Quem era ela? Ok, seu nome é Louise , no entanto preferia ser chamada apenas de . Ela tinha dezenove anos quando nos conhecemos, um ano mais nova que eu e, para ela, tínhamos um abismo de incompatibilidade. Quanto exagero! De fato era uma menina exagerada em tudo. Completamente lesada, totalmente desastrada, risada escandalosamente alta, voz absurdamente elevada, aparência demasiadamente bela, sorriso extremamente encantador...
*****Carismática. Eu a definiria assim. era uma fotógrafa-produtora que acabara de se formar. Esbanjava formosura aonde ia. Suas piadinhas e brincadeiras bobas davam ar à graça, e me atrevo a dizer que nada seria tão prazeroso sem ela por perto. De alguma maneira surreal, ela conseguia transformar um trabalho chato, como seção fotográfica, em algo divertido. Pele clara, cabelos levemente , olhos perfeitamente —Juro, são hipnotizantes. Ah, e ela tinha sardas nas bochechas. Eu também, mas obviamente são mais bonitas nela. Como um idiota, eu estava louco por aquela mulher. O único problema, é que ela não dava a mínima para mim.
***Carma ou não, essa é a nossa história...


Prólogo:
Eu não tenho equilíbrio

*****Tudo começou quando eu decidi que beber seria a solução de tudo. Minha visão rodopiava na altura em que a décima dose — ou décima segunda, já tinha perdido a conta — de rum descia flamejante por minha garganta, causando-me uma sensação pouco confortável. Era uma bebida um tanto rústica demais para se exagerar, principalmente quando misturada à vodka, um tiro certeiro. O copo vazio jazia sobre o balcão enquanto o brilho de meus olhos se apagava gradativamente à medida que o álcool me consumia. E agora o cheiro de heroína que exalava no lugar era a menor de minhas preocupações. O único pensamento que assolava minha mente conturbada era: quanto mais eu teria de beber para esquecê-la?
***Outra dose.
*****E como na maioria das noites, a dor e o sofrimento foram se transformando em um enorme borrão, dando espaço para a euforia que o estado de embriaguez me oferecia. Já não me recordava do motivo pelo qual estava lamentando. Da pior maneira possível, eu havia me anestesiado. E de repente o pub me pareceu um lugar mais convidativo, as mulheres se tornaram mais atraentes e a música ligeiramente mais contagiante. Minha diversão, ultimamente, baseava-se na quantidade de álcool que circulava em minhas veias, como um entorpecente que me permitia desligar minha consciência. Eu queria dançar —eu odiava dançar.
*****— Senhor Jones, não é melhor parar — o barman me abordou amigável — e ir para casa?
***O olhei.
*****Se não estou enganado, e no geral eu estou, seu nome era Robert. Era um senhor de idade um pouco avançada que trabalhava ali desde sempre. Calvo, no topo de sua cabeça havia somente dois únicos fios de cabelo prateado, e gostava de exibir um dragão tatuado em seu braço esquerdo. Fontes diziam que ele era o dono do pub, em minha atual condição, eu dizia tanto faz. E, forçando uma expressão desentendida, não o respondi.
*****— Quer dizer — explicava cauteloso — o senhor misturou rum com vodka.
***Permaneci em silêncio e ele insistiu.
*****— Seria melhor ligar para alguém, não acha?
*****— E porque eu faria isso?
*****— Pretende dirigir dessa forma? É um tanto perigoso.
*****— Não pretendo ir embora. — esboçando uma risada fraca e sem humor o respondi ao me colocar de pé, virando as costas para ele em uma postura bem mais rude do que o pretendido — Não hoje, pelo menos.
*****— O pub fecha as três.
*****Este pub fecha as três.
*****— Se o senhor diz, apenas acho que deveria reconsiderar. — disse ele, calmo.
*****— Reconsiderar o quê? Ninguém está esperando por mim.
*****— Bom, uma hora sempre teremos de voltar para casa.
*****Home is where the hearte is — mais sóbrio do que esperava, eu disse relembrando a música que tinha composto junto a Tom na semana passada — e o meu está com ela, bem longe daqui.
*****— Talvez...
*****— Eu tenho total controle da situação. — o interrompi — Obrigado.
*****Um dos pontos negativos de se estar sob o efeito do álcool era que eu não tinha noção do que fazia ou falava. Minhas reações e sentidos se embolavam de tal forma, que sequer notara a ignorância a qual tratava um alguém que somente tentava me ajudar. O problema era que eu não queria ajuda. Bastou um simples passo para que eu percebesse o quão desorientado e tonto estava. E com um total controle da situação, cambaleei. Isso somado ao fato de que não sabia para aonde ia.
***E aconteceu bem rápido.
*****Definitivamente equilíbrio era algo que eu não tinha, nem mesmo quando sóbrio. Alguém havia esbarrado propositalmente em mim, forçando-me a dar um passo cambaleante para trás na tentativa de me manter de pé. Sentia um arrepio desconfortável envolver meu corpo, proveniente do líquido gelado que escorria por meu peito em direção à minha barriga. "Damn it!", murmurei ao erguer a cabeça, e então meu olhar fora de encontro com os de uma mulher. Sorrindo de forma marota, ela disse:
*****— Oops, desculpe. — e levou a mão até a boca — Seria melhor tirá-la.
*****"O quê?" foi o primeiro pensamento que veio em minha mente. "Isso é uma espécie de cantada?" perguntei a meu cérebro confuso. Observei-a se afastar. Voz terrivelmente irritante, pernas bonitas, cabelos louros, corpo praticamente descoberto, caráter nenhum. Era verdade que eu não gostava de mulheres que abordavam um homem, talvez eu seja tradicional demais, no entanto eu não estava em condições de julgar alguém, estava? Decidi que não.
*****Caminhei até a outra extremidade do balcão, onde permanecia sentada a me observar com uma expressão sugestiva. Não houve saudação. Nem um simples "posso lhe fazer companhia?" ou talvez um apropriado "me chamo Danny". Nada. Sem cerimônia alguma, puxei-a pela mão para um beijo —obviamente com cuidado, não sou tão imbecil. Minhas mãos desciam pelas costas nuas no enorme decote traseiro de sua blusa, até parar pouco abaixo do cós da saia que claramente faltava tecido. Eu não tinha pretensões de ser o homem mais carinhoso do mundo, tão pouco o mais respeitador, somente queria afogar minhas mágoas, e a julgar pela maneira a qual ela reagia, eu diria que havia aceitado os termos de condição.
*****Conduzi-a para meu carro e não sei dizer para aonde iríamos. Tudo que eu sabia, era que aquela seria outra noite a qual eu não me lembraria no dia seguinte.

*****— Me chamo Rebecca. — ela disse um tempo depois.
*****— Tanto faz. — respondi automático, lutando para entender meus pensamentos.
*****E eu adormeci sabendo que, de alguma maneira, algo estava errado.


Capítulo um
Um estranho líquido amarelo

*****Na manhã fria do dia três de setembro, o inverno pareceu finalmente ter chegado em Londres, trazendo consigo pequenos flocos de neve que despencavam preguiçosamente do céu acinzentado. Aos poucos, uma fina camada esbranquiçada se acumulava sobre os telhados e calçadas, formando uma bonita paisagem. Um ar gélido penetrava em meu apartamento através da janela que esqueci aberta, mas apesar disso, vi-me deitado de bruço no chão frio da sala enquanto alguém me sacudia de uma maneira não muito delicada.
*****— Estamos atrasados. — ouvi uma voz familiar.
*****Carinhosamente, Tom usava o pé esquerdo para me sacolejar. Me acordar depois de ter ingerido tanto álcool não era uma tarefa fácil, sei disso. Podemos dizer que a paciência dele começou a se esvair com o tempo. E na verdade, não posso culpá-lo. Quase todas as manhãs Tom era obrigado a me lembrar de nossos compromissos antes que Tommy — o nosso querido faz-tudo que se encarregava garantir nossa presença nos lugares marcados. Agora, pensando melhor, ele sabe mais da minha agenda que eu mesmo — o fizesse e me encontrasse, bom, de ressaca. Decididamente eu não tenho o direito de reclamar.
*****— Danny! — mostrou-se nervoso — Estou perdendo a paciência.
*****E sacolejou-me novamente, desta vez um pouco mais forte. Permanecendo de olhos fechados e sem mover uma única parte de meu corpo, resmunguei palavras desconexas e incompreensíveis em um som abafado —meu rosto estava escondido por entre meus braços. Aparentemente Tom entendera o recado, e no segundo seguinte retirou o pé de minhas costas ao deixar-se cair no sofá, dizendo:
*****— Nós temos reunião — o vi conferir o relógio — em trinta minutos.
*****— Não era amanhã?
*****— De ontém. — respondeu-me em uma voz de tédio arrastado — E porque dormiu no chão da sala?
*****Inclinei a cabeça para o lado, deixando meu rosto sonolento visível, e o olhei em silêncio. Forcei meu cérebro a pensar no assunto. Eu não me lembrava. Conseguia me recordar de absolutamente nada referente a noite passada, sequer sabia como viera para casa. Apenas maneei a cabeça negativamente sentindo minhas bochechas queimarem. Era vergonhoso. E a expressão séria de Tom não facilitava as coisas.
*****— A noite passada é vaga em minha mente.
*****— Orgulhoso? — ironizou.
*****— Não.
*****— Sabe que eu não apoio esse seu comportamento, não sabe? — em uma permanente expressão de censura, Tom erguia a mão para me ajudar a levantar. E então me estapeou a cabeça resmungando um "Irresponsável".
*****— Que zumbido é esse?
*****— Que zumbido?
*****— Esse.
*****Sentado ao chão, batia levemente em meu ouvido esquerdo, e quanto mais eu fazia, mais doía. E consequentemente mais o zumbido aumentava. Tom mal teve tempo de concluir sua frase iniciada por "acho muito bem feito que..." e BUM! De repente a porta de meu apartamento era bruscamente escancarada, dando espaço para um Fletch furioso, que nos assustou. Fu. Deu. Aquele era o momento perfeito para entrar em pânico. Fletch era nosso empresário e só nos visitava por dois únicos motivos: ou para desejar feliz aniversário, ou para brigar por alguma coisa. E, bom, não era meu aniversário.
***Fingindo-me de inocente, arrisquei:
*****— Fletch?! Aconteceu alguma...
*****— Calado. — interrompeu-me — O que você tem na cabeça?
*****— Hmmm...
*****— Você não pensa nas consequências?
*****— Do que você...
*****— Estou falando disso!
*****E literalmente jogou a notícia sobre mim. Fletch arremessou um jornal em meu rosto com desgosto. Receoso e com as mãos trêmulas, o abri. Desejei não ter feito. A manchete não passava de um texto pejorativo que, com palavras até então inocentes, difamava a imagem da McFly por completo. Somente no final dava a entender a real intenção: destruir a nossa carreira musical. Havia uma foto minha com uma mulher loira — não pude identificá-la, estava de costas — e ao lado uma frase. "De que adianta afirmarem ser uma banda de princípios, quando o guitarrista é flagrado desta forma? Uma enorme contradição.". Merda. Merda. Merda.
*****— É só uma mulher. — disse embolado.
*****— É uma groupie, Danny! Uma groupie!
*****— Fletch, eu não, hm, me lembro da noite passada.
*****— O que só torna as coisas piores! — esbravejou — Já pensou se ela aparece grávida? Como lidaria com a situação, quando sequer consegue se lembrar o que fez?
*****— Desculpe.
*****Sorry is not good enough. — ironicamente usou minha música contra mim — Aonde pensa que está? De férias em L.A?
*****— Não, eu...
*****— A McFly é um trabalho sério. — e apontou para Tom — Acha justo com seus amigos? Essa banda é importante para eles.
*****— Mas Fletch, também é para mim, eu só...
*****— Eu não quero ouvir, Danny.
*****— Eu só estava tentando me distrair. — disse rapidamente, antes que pudesse ser interrompido.
*****— Se isso é a sua distração, pode esquecer a McFly agora mesmo.
***Eu me calei, ele estava me assustando.
*****— Hm, Fletch — Tom dizia — está exagerando um pouco, não?
*****— Não o defenda! Você não é a babá dele, Tom.
*****Seria hipocrisia de minha parte dizer que eu não estava com medo. Eu estava me borrando. Matthew "Fletch" Fletcher passava tanto tempo a meu lado, fazendo o possível para controlar meus atos impulsives, que havia se tornado o pai que eu já não tinha. E eu o respeitava, assim como sentia medo. Ele possuía o dom de usar as palavras a seu favor —que em meu ponto de vista, soavam ameaçadoras. Naquela manhã, fez-me enxergar uma imagem de mim que eu me recusava a ver. Seu olhar de decepção me inundava de vergonha.
*****De uma forma branda, Fletch me disse que não era a bebida que solucionaria meus problemas, e que me envolvendo com groupies só complicaria as coisas. Fazia tanto sentido, que eu parecia um idiota. Disse também o quão ingrato eu estava sendo com a oportunidade que ele fizera questão de me oferecer. E ainda ressaltou o péssimo exemplo que eu dava a Dougie e aos fãs, que se espelhavam em mim. Ele tinha razão. Que merda eu achava que estava fazendo? Em outras palavras, fui totalmente egoísta ao menosprezar a chance que tinha recebido. Jamais senti tanta vergonha em toda a minha vida. Isso, acrescido ao fato de que Fletch não parava de falar, causava uma pane em meu cérebro.
*****— ...foi o ato mais inconsequente de sua parte. — finalizou decepcionado. Permanecia de pé e com os braços cruzados em uma perfeita postura paternal que me paralisava — E saiba que jamais, desde que está nessa banda, me decepcionou tanto quanto hoje.
*****— Sei disso.
*****— Não, não sabe. Eu nunca imaginei que você fosse por a imagem da banda em risco.
*****— Sinto muito, Fletch. — Lamentei sentindo o peso da vergonha sobre meus ombros. Ainda sentado ao chão, apoiei meus cotovelos sobre os joelhos de modo que pudesse esconder o rosto nas mãos. Como um filho culpado após ser duramente castigado.
***E foi Tom quem recomeçou o assunto:
*****— Ok, mas o que faremos?
*****— Estou sempre um passo a frente. Já tinha alguém no jornal local trabalhando para mim, nenhum exemplar foi vendido. Creio que ainda há cópias dessa foto circulando, mas uma coisa de cada vez. Resolveremos isso com o tempo.
***Eu sorri abertamente, Fletch era quase um herói.
*****— NÃO SE ANIME IDIOTA! — gritou ao estapear minha cabeça, e meu sorriso murchou com a mesma rapidez que viera — Espero que tenha aprendido que toda ação tem uma reação. E que não estarei aqui sempre para concertar seus erros.
*****— Ai meu Deus. Rashman! — lembrou Tom em um ato de desespero.
*****— Felizmente ele não sabe. O avisei, inclusive, que estariam ocupados e que chegariam um pouco depois que o combinado, porque imaginei que alguém — e nessa hora seu olhar viera de encontro ao meu — esqueceria da reunião.
*****— Não se repetirá.
*****— Espero que não, Daniel. Espero mesmo. — Fletch disse antes de se retirar.
***À sua maneira, ele era o melhor empresário que poderíamos ter.
*****— Imbecil! — assustou-me Tom — O que está esperando para ir se arrumar?

*****Havia algum tempo que eu estava ali sentado, olhando a esmos. Perguntava a meus pensamentos confusos qual a atual imagem que as pessoas tinham de mim. Um bêbado? Um traste mulherengo? Eu até poderia aceitar, se Fletch não estivesse tão decepcionado. Vê-lo daquela forma era pior que qualquer ofensa, pior que qualquer agressão. De fato eu estava decidido a mudar meu comportamento, mas estaria mentindo se dissesse que dali em diante jamais iria beber. Não que fosse uma dependência alcoólica, não é isso. Somente não consigo imaginar uma boa festa sem, pelo menos, algumas cervejas. Vamos ser honestos, não será fácil. Não pela bebida, Fletch era o tipo de pessoa que fazia o possível e o impossível para ajudar, mesmo àquele que não merecia, mas recuperar sua confiança... digamos que seja algo que nunca ocorreu antes.
*****Presumindo que Tom estivesse surtando pela demora, porque ele não admitia atrasos, sacudi a cabeça e me levantei. E foi então que tudo rodopiou. Não precisava me lembrar da noite passada para saber que havia extrapolado os limites —a azia era incontestável. Minha visão escureceu e em movimentos rápidos apoiei-me à cama, por alguns segundos cheguei a pensar que desmaiaria. Um suor gelado escorria por meu rosto enquanto eu sentia alguma coisa se revirar em meu estômago fazendo o caminho inverso até minha boca, iria vomitar. O desespero tomou conta de meus movimentos.
*****Quando dei por mim, já estava saindo do quarto. Caminhava com certa dificuldade, meu corpo pesava além do normal e minhas pernas pareciam presas ao chão. Respirando de maneira ofegante, escorava-me de parede em parede na intenção de chegar até o banheiro o mais rápido possível. Nunca me odiei tanto por ter escolhido um apartamento com apenas um banheiro no final do corredor, pareceu uma eternidade de distância para mim. Eu não conseguiria. E foi quando um cansaço descomunal atingiu minhas pernas, quando eu realmente sabia que iria cair, que alguém me segurou.
*****— Danny, o que houve? — dizia um Tom afobado.
*****— Estou... passando... mal...
*****— Vamos ao hospital.
*****— Não. — o respondi em uma voz falhada e fraca — Só me leve ao banheiro.
*****— Tem certeza?
*****— Absoluta.
***E após uma pequena, mais silenciosa, briga, Tom deixou-me sozinho.

*****No fim das contas, não vomitei e nem havia maneiras de isso acontecer. Meu estômago estava vazio demais. A menos que eu começasse a expelir meus órgãos. Sem saber exatamente o que fazer — e desejando mais do que nunca que minha mãe estivesse ali, porque a saudade pareceu triplicar naquela situação — coloquei a cabeça debaixo da torneira e assim permaneci por um longo tempo, até que a náusea fosse diminuindo gradativamente. A água gelada que batia sobre minha nuca e escorria por meu pescoço causava-me um arrepio pouco confortante, de alguma maneira, era revigorante.
*****Tom bateu à porta minutos depois, alegando ter comprado um remédio perfeito na farmácia defronte, mas vindo dele, eu poderia desconfiar. Não poderia estar equivocado. Era um pequeno vidro transparente de tampa amarelada. Não havia nome, não havia rótulo, não havia embalagem. Nada. Apenas um estranho líquido igualmente na cor amarela. Entregou-me aberto, e o cheiro forte invadiu minhas narinas fazendo meu estômago embrulhar novamente. Recuei em um passo para trás.
*****— E então, princesa? — perguntou-me com o braço erguido — Pode ficar embriagado até cair, mas não pode beber isso?
*****— Só pode estar brincando.
*****— Pareço estar?
*****— Agradeço a sua boa vontade — eu dizia enojado — mas não vou beber isso.
*****— Eu não estou lhe dando opções.
*****— Tom, isso fede.
*****— Você também, agora bebe.
*****— Isso é amarelo.
*****— E daí?
*****— Eu nunca vi remédio amarelo, sem chance.
*****— Danny, beba! — ordenou — E eu iriei dirigir.
*****— Como se eu pudesse contestar... — resmunguei.

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